terça-feira, 21 de abril de 2009

Meu Precioso Paradoxo

Nunca me questionei de onde deveria tirar forças para qualquer que fosse a situação. Afinal, eu sempre tivera as coisas de modo fácil e indolor. De certa forma, a falta de problemas fora bastante prejudicial à minha formação pessoal. Mas como presente do destino, eis que surge o mais terrível de todos - e também o mais compensador, devo dizer assim. aquele que ao mesmo tempo que me marcara para sempre, me levou a um patamar inimaginável para tantas pessoas.

No momento em que me vi frente ao abismo, segurei os galhos que na barreira se encontravam com todas as minhas forças, mas eles eram muito fracos. Não consegui. E então subitamente caí. Foi inevitável o surgimento de feridas quando cheguei ao fundo. Arranhões, cortes... Muitas chagas abriram-se em mim. Uma experiência inesquecivelmente ruim. Ao perceber-me ali, cogitei se de fato conseguiria retornar ao topo em que antes estava, por ser imenso o medo de tentar subir, visto que foi por aquele mesmo caminho minha depredação. Então, depois de dias difíceis, decidi que o faria, porque se assim não fosse definharia até o fim sem ao menos ter tentado reagir à tudo aquilo. Foi aí que reuni minhas contidas forças para subir e sair daquele abismo sombrio no qual eu estava.

Sempre enxerguei meus braços como a parte mais frágil de meu corpo e, de maneira paradoxal, eles eram a única opção que eu tinha para conseguir subir. O bom foi que na parede havia muitos galhos - aqueles que me arranharam e feriram meu corpo inteiro. Meus braços, tão frágeis braços, intermediaram a mais esplêndida subida, pela qual consegui observar o caminho de um modo incrível, que não poderia nunca no momento da queda. Enquanto subia, vi muitas pessoas na mesma situação que eu. Estavam tentando alcançar o topo. Curioso, pois não havia ninguém lá em baixo comigo quando caí. Resolvi perguntar o motivo pelo qual estavam ali. As respostas foram as mais diversas e eles sempre diziam que o deles era o mais grave. Eu apenas tinha caído no abismo. Estranho, pois todos nós havíamos caído. A diferença estava na razão pela qual tínhamos ido à beira do mesmo. Eu, particularmente, estava apenas tentando ver meu reflexo no lago que havia lá por perto - mesmo que este reflexo não fosse tão nítido, ou bonito, afinal de contas, eu não conseguia me enxergar tão bem quanto posso agora - quando uma ventania furiosa me jogou penhasco abaixo.

Quanto mais eu subia, menos pessoas haviam. Parecia que eu estava num ritmo mais acelerado do que todos à minha volta. E de fato, eu não estava me preocupando com qual problema era mais grave e sim que todos nós estávamos na mesma situação, inerentemente aos antecedentes. Bem, este certamente foi o principal motivo a me fazer chegar antes de todos eles, visto que minha determinação a conquistar o topo era tão real e imparcial ao que havia ao meu redor, que eu não estava interessada em questionar se meus braços eram os mais fracos, ou se eu demoraria tanto quanto eles, já que estavam há muito tempo em pontos pelos quais passei com devido mérito - não facilmente, pois meus braços eram fracos e eu precisei fazer mais esforço do que em toda minha vida. Pensando bem, como já citei, nunca havia feito grandes esforços por nada.

Ao fim da trajetória, minha conquista foi sublime, pois ela era proveniente de mim, apenas de mim. E mais ninguém. Não havia platéia ou bastidores. Era apenas eu, os galhos e o topo. Estava revigorada, não por completo, pois as feridas ainda doíam um pouco, e era inevitável que eu ainda sofresse ao tocá-las. Algum tempo depois, ainda estavam abertas, porém bem mais cicatrizadas. Hoje, consigo olhar o mundo sem medo, pois, por mais que eu lembre tristemente de tudo que me foi ruim, sei que de lá tirei aprendizados brilhantes para toda a minha vida. Confesso que por muito tempo entristecia-me ao relatar aquela trajetória fúnebre. Mas tudo isso me trouxe uma forte certeza: eu posso tudo que quiser. Eu posso até mesmo cair, mas não será no mesmo abismo. E quando acontecer em outro, saberei que vou conseguir chegar de volta ao topo, pois meus braços estão bem mais fortes para enfrentar qualquer subida que em minha vida apareça.

E agora, olhando-me em qualquer que seja o lago, posso perceber meu reflexo bem mais nítido. Perceber, ainda, que quando finalmente desloquei-me daquele centro angustioso, passei a enxergar a imensidão do mundo. Hoje tenho certeza de que para conseguir conquistá-lo, só me faltava dar o primeiro passo - ou a primeira braçada. E eu consegui.

2 Comentários *=):

Bruninho disse...

adorei o post...realmente muito lindo..bjuss

mirella disse...

surpreendente...te amo amiga

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