segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Matinal da Noite


É quando os Rayos vêm invadir, pela janela, anunciando o dia. E a mente, de uma (in)lucidez latente, pede calma, sossego, paz. Quero voltar a dormir. Porque acordar cedinho nunca foi o meu forte. Fico tonta, irritada – e irritante. Impaciente, viro do avesso, de um humor meio nazista, meio suicida, meio totalitário.

Não. Continuarei deitada, porque esse mundo de realidades distorcidas parece não estar à minha altura. Eu preciso de sinceridade. É. E, ultimamente, as pessoas resolveram não o ser para comigo. Eu sinto que não são. Eu as sinto como quem sente o gosto da água: vem pra te amenizar de qualquer coisa, quando, na verdade, não te trazem sabor algum. E é o que eu queria que me chegasse: um sabor desinibido, destemido, deus. De uma incoerência insana, de qualquer heresia subumana, de qualquer desejo do coração.

Sim. Eu queria mais que tudo isso. E é de uma urgência duvidosa. Porque essas janelas não passam de uma grande farsa, uma falsidade: onde estariam minhas asas, para que eu pudesse, enfim, voar bem alto, até outra dimensão, de estrelas brilhantes, de gentileza? Incompreendida, quem sabe. Pois voar poderia ir muito além de mim e dos outros, do outro, de quem se visse voante. Para qualquer lugar em que os olhos e seus olhares valessem mais que qualquer nota de cem. Ou o abraço aconchegante, apertado, bem apertado, do tipo que não se quer largar, fosse reconhecido como necessidade.

Talvez alguém consiga, ainda, sentir esse tipo de coisa, um arrepio. Talvez eu deixe de ser chamada de utópica. Talvez qualquer mortal se abra e diga a si mesmo o quanto precisa sentir o ser, o viver, os sentidos todos, coloridos. Como as luzes da alma, que nos tocam a nuca.

De borboleta em borboleta, eu alimento meu estômago. E o vôo se dará de dentro para fora, em formato parecido a um feixe de luz. Radiante de alma e sensibilidade. Em paix.

É. Voltarei ao meu leito-lunar-iluminado, embora o sol insista em querer me embalar. Contemplando a energia especial das estrelas, tão minhas, tão belas, tão elas, tão reflexo de mim.

Porque sedimentos incoerentes corroem.

Do devaneio que não faz sentido, encantam-se meus sentidos todos.

“O que não faz sentido é o sentido que isso tudo tem.”