quarta-feira, 29 de junho de 2011

Pode ser que o encontro com a obra nos mantenha, pelo menos um pouquinho, em contato com o criador da mesma. Pode ser. Mas será? Há quanto tempo o criador já não é mais a obra; a quantas anda o novo criador, embora a obra já tenha um dia refletido seu estado de bem ou mal estar, seu momento, o modo de ver a realidade que se concebia num momento ao qual talvez nada mais tenha a ver. Pode ser.
Enquanto eu saio em busca de encontrar gente, que nem tem como encontrar de fato - e 'de fato' remete a definir o que vem a ser 'encontrar' -, o que posso ter são intermédios com sensações propiciadas através de alguma coisa criada, que um dia já refletiu parte da pessoa. E aí os meus sentidos enganam-se em pensar que aquela presença projetada pode ser tida com realidade - e aí mais uma vez caberia um 'defina realidade'-, porque levando em consideração até uma obra contemporânea desse criador, o ser já não é mais o ser que se foi pouco tempo depois, poucas experiências e vivências após e a criação.
E eu nem sei porque estou aqui no blog, escrevendo sobre isso. Talvez necessidade da presença, que obra nenhuma, nem mesmo fotos - porque nem mesmo as fotos captam a imagem exata, considerando que logo após o clique, já se existe alguma mudança -, conseguiram suprir. Talvez necessidade da presena do que não pode ser visto: o invisível-sentível-essencial. Que, me parece, nem sei do que se trata, nem se existe sentido nessa de presença, nem se cabe essa coisa de impronunciar, pela condicionalidade além da escolha que é o de não se encontrar maneira de dizer o indizível. Talvez. [o que também pode ser somente - 'defina somente' - estresse, o que me tem chegado, indesejado e chato, sabe né?]
E aí, me coloco aqui, a escrever coisas que em pouco tempo pode ser que nem me reflitam mais...

[e acabo de escrever, após uma madrugada inteira de um estudo quase negligenciado pelo desânimo + preguiça + sono. logo... ah!]

sábado, 4 de junho de 2011

Fagocitose

Meu romântico Jack, por André Lucas Fernandes, no Eu Também Quero Falar.
(boa sorte com o Wordpress. hihi)

"A cena se desenrolava ao som de alguma coisa de Bach, ou era Tchaikovsky, talvez Vivaldi… Verdade é que não importava.
Tipos dos manuais “bem acabadinhos”, psicanálise “certinha”, cuidado, o personagem que agora se apresenta, nem gostava de música clássica. Não era uma “moeda humana”: ovelha em casa, lobo na rua. Esqueça, leitor, veja bem: esqueça suas idéias classistas ideológicas, seus conceitos leigos que se adornam de razão absoluta.
O que se processava era um rito, que não levaria a lugar algum. A mesa velha era um altar, no centro da arena. Era o poder inabalável. Lá, Jackson era universal: ele e você, ele e eu – todos.
Pelas paredes, os mais diversos apetrechos foram colocados cuidadosamente: perfurantes, cortantes, esmagadores. Diversas possibilidades, combinações e potencialidades. Um grande exercício de criatividade.
Jackson, ou Jack – já que somos íntimos agora – era um visionário, um pensador. A aparência um tanto bagunçada não era constante. É que em épocas de euforia (como a que observamos) ele ficava ‘desleixado’. A imagem de maltrapilho, o fedor (que ele não percebia) também se enquadram nessa situação. Ele não era pobre, um miserável pária. Não tinha documentos, mas nada acontecia por isso. Era um invisível, imune às amarras do controle social. Um homem que, rompendo com o pacto de sociabilidade, fabricou a sua própria apartação.
Jack abandonou até o título de ‘homem’, é bem verdade. Tampouco se percebia como coisa. Pergunto-me, aqui entre nós, se ele era capaz de auto-observação… Não sei.
O espelho do lado oposto mostrava no peito a frase tatuada: “Eis o filho preferido…” E ele era.
Tudo isso, toda a cena, as imagens produzidas existiam de caso pensado. Jack era um apaixonado e sua vida era perseguir essa emoção profunda, indecifrável fruição. Não era paixão própria, entendam – não levantem a pecha do narcisismo. Ele era generoso, muito humano.
Uma frase marcou a vida de Jack: “Existir é uma violência.” E Jack existia e percebia a existência dos outros. O entorno machucou Jack a vida toda, mas ele nada fez para merecer isso. Ele era um curioso (e essa curiosidade também o violentava).
27 anos. Ele também era um ‘cansado’. Contavam três anos desde que Jack decidira reagir…
Ele queria entender o porquê de tanta violência. Intuiu que o corpo era a origem e que a história servia como a narrativa do corpo violentado e violentador. Jack era graduado em Medicina. Exímio entendedor de Anatomia. E ele odiava adornos, floreios. Admirava a essência, a natureza das coisas.
Andava ao redor de seu altar particular. Já estava na hora de encontrar com a sua essência. Era a vigésima pesquisa e ele sabia que estava perto. Dessa vez, estava só: sem cobaias, sacrifícios… Hoje, iria entrar em comunhão com o corpo e com a essência da violência. O primeiro passo era romper o efeito ludibriante, o receptáculo.
Escolheu um punhal e enquanto perfurava a barriga era capaz de ver, perfeita, a essência, a dor, a violência. Epifania forçada na narrativa: Jack finalmente compreendeu seu papel. Qual fosse – violência em forma de resposta contra você leitor: o papel de papel nenhum."
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Não de coisa, mas “o papel de papel nenhum.”
É o que a gente sente quando não somos parte – de verdade, de sentido de ser – do que fazemos, não nos reconhecemos em tal, não nos reconhecemos em nós mesmos, menos ainda no âmbito social. Ah, porque o papel de papel nenhum é deixar de ser sujeito de criação, de re-criação, de obra-reflexo de si, da vida, na vida.
Jack, Lino se apx.