quinta-feira, 3 de novembro de 2011


Assim que a guapita pôs os olhos no guapito, que estava alí por perto, tombou in love e não soube bem o que fazer. Quis se aproximar. Ele estava escrevendo. Fotografou, desenhando com a luz, suas formas em segredo. Chegou perto, ofereceu um café, puxou assunto. Quis raptá-lo. Pegou-o pela mão e o conduziu, em direção a qualquer lugar, a ela mesma, ela mesma a ele; raptou-o sem planos, num impulso descontrolado e urgente. Improvisando. E, ainda que não soubesse, embora houvesse sentidos sem que pudesse refletir, também estava sendo raptada por ele: por seus olhos, seu sorriso, seu toque, sua presença. Pelo cheiro do qual não conseguia mais se desligar.

- Raptos não declarados pela urgência dos apaixonados.

E se raptaram felizes.
(O para sempre é relativo, mas "sempre" pode ser uma felicidade que preenche, fazendo com que se queira ficar "sempre" junto, porque se enlouquece de saudade à mínima distância. Talvez isso influencie na fama de loucura que os apaixonados carregam. Talvez não seja apenas fama-boato. Talvez enlouqueça mesmo. Uma loucura desejada. Uma loucura tão louca que não se quer mais largar, tanto do outro, quando da loucura pelo outro.)
Felicidade. E já a havia, entre os guapitos, no simples ato de darem as mãos um ao outro, o eu ao outro, um inteiramente para o outro, quierendose mucho.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

‎- Aos que tentam se promover a partir da criação de uma imagem intencional e direcionadamente construída, é bom saberem: a tentativa de se colocar essa imagem em evidência e iludir a percepção alheia é infinitamente menos difícil se compararmos essa tentativa ao fator manutenção dessa imagem, tal como o ser condizente ao que se coloca como sendo, ao ser imagem, não parecer imagem, evidenciando respaldo apenas através do - falso e hipócrita - discurso.E tenho dito!

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Ciências humanas aquém do aspecto de HUMANIDADES! (eu ainda acrescentaria a proposta de um pouco de reflexão sobre vida e, mais ainda, sobre Vida em maiúscula, no que se refere aos sentidos, no que se toca a sociedade constantemente aflita, em que se devia considerar a realização e a satisfação em se estar vivo. Penso sim, como tu, que poderia ser qualquer um de nós. Nós mesmos estudamos sobre os fatores sociais que influenciam essa atitude. Mas, além disso, eu me pergunto como conseguimos vendar os olhos para a questão humana que se tem nisso. Além de ciência: espiritualidade. Além de estudos: o sentir. Além de nós mesmos e nossos interesses: o outro. Penso, mesmo, que o mal estar na nossa sociedade tem chegado a proporções gigantescas. E me preocupo. E são tantas pessoas, tantos amigos, tantos desconhecidos e tanta gente querida que vive entre a gente. E a gente nem sabe. Ou melhor: não percebemos. Penso sempre no fator existência e acho não só envolvente, mas perturbante, essa questão do ser em si sem ser o outro. É só um desabafo, também, acompanhando aqui. São fatos - tristes fatos - como esses que agridem os sentidos de quem se importa. Se passa tanta coisa pela minha cabeça. Eu procuro não imaginar nada sobre a vida de quem se jogou. Mas aí fico pensando nas vidas que ainda vivem, ou acham que vivem, e me pergunto: até quando? Até quando viver será suportável para nós? Até quando, principalmente, aceitaremos como natural, nesse conformismo destruidor, a nossa realidade de MAL ESTAR, em pessoa, em ser, em essência, em sentidos, em VIDA - ou quase vida que pensamos estar vivendo -, quando muitos de nós morrem por dentro e aí nada ao redor os alcança, pois seus sentidos estão mortos? A minha maior preocupação é essa aceitação da destruição do espírito. E a culpa nem é nossa. Nosso meio nos proporciona o sentido individual de existir. Enquanto somos encorajados ao individual e a vestir a carapaça da indiferença. Um é fraco. Um é triste. Acho que até a nomenclatura HUMANIDADE está questionável. É conflito. É tensão constante numa pseudo humanidade conformada a existir sem vida. Seja literalmente, ou não. Eu escolho viver. Mas até as nossas escolhas para a liberdade sofrem coerção social. Pessoal. E alguns de nós, de tão frágeis, não aguentam. E convivemos com isso. Queria que todo mundo refletisse e pensasse, justamente como Walter colocou aqui, a que tipo de formação [deformação?] estamos sendo submetidos e, pior, estamos aceitando.)

Mais um ser que sequer conhecemos pulou [e quem sabe o porquê?] do Centro de Filosofia e Ciências Humanas, da UFPE, o prédio-símbolo do abandono da vida. Do abandono do ser. Do ser humano. De ser humano. Humanidades? E não são as ciências humanas, mas o que fazemos com e para ela. O que o termo "humanidades" vem deixando de significar na vida dos estudantes, que, em sua maioria, vira a cara e finge normalidade diante do absurdo. Reflitamos.

terça-feira, 27 de setembro de 2011


Tem essa coisa de algo só existir se você pensar como existindo. Ou de só poder ser pensado pela condição de existir - acho essa última meio limitada, porque acaba freando a capacidade de criação.
Aí vi uma frase hoje, aqui mesmo no Facebook, que me fez perceber que não sei se penso em você existindo, e aí então você existe, ou se penso em você porque você existe. Mas penso. E você existe. E penso em você porque você existe e, muito mais que isso: você existe porque eu penso em você. Mesmo que não exista, penso. Porque essa existência é uma questão de ponto de vista, ou melhor, de existir no pensamento. Você no meu pensamento.
Você.
(Ah, a frase foi: pensa em mim pra eu existir.)

:*****

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Essa possibilidade de abstrair e conotar todos os sentidos da saudade em uma única palavra - Saudade - é um mimo da Língua Portuguesa (pelo menos é o que está sob meu conhecimento). Fico imaginando ser isso uma consequência dela, essa palavra, estar na última flor do lácio. Essa questão da linguagem influencia no modo como alguém constrói socialmente a concepção do sentir e do se portar, do agir, diante da sensação, como também na maneira como se externa os sentidos construídos, em relação ao significado atribuído à palavra.
Considerando que Saudade abarca tantos significados, eu poderia bem leigamente concluir que nós, herdeiros do idioma lusitano, em se tratando de termos e sentidos, sentimo-la de maneira tão abrangente quanto tudo isso que se constrói a partir da linguagem: saudade.

E eu poderia colocar essa construção do sentido de "saudade" como sendo o céu e o inferno de quem se socializa através desse idioma.

E é também nesse sentido de construção que aprendemos o que significa uma palavra, mas para expressá-la e enquadrá-la no contexto do que se pretende exprimir, é preciso que se abstraia seu sentido, que se compreenda além de um juntar-de-letras qualquer.
É uma imersão.
Linguagem é sentir.

[Saudade é sentir saudade...]

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Carta-saudade

Bateu uma vontade agora de te dizer que tu é uma das pessoas mais inteligentes, belas e queridas que eu conheci na vida! E uma das que eu mais sinto falta, e de uma maneira diferente, porque é uma falta gigante que só aumenta. Me pego direto querendo a presença da amiga, do meu espelho, da minha consciência, da quase-eu, de tanto que tava unida por tudo.
Eu poderia dizer: que me perdoem todos os meus outros amigos, também queridos, mas Adriana é aquela por quem eu voltaria no tempo. Porque eu sinto falta até, e muito, das nossas conversas antes de dormir.
Um dia desses estive pensando como eu pude não ir pro Salesiano contigo, como eu pude ser fraca em relação a laços sem presença, como eu sou uma amiga ausente e travada. E frente a isso, tenho em mim tanto carinho e afeto, é tanta importância que eu coloco em ti, Adriana, que eu nunca entendi como eu aguento não falar todos os dias contigo, via internet, via telefone, via face to face. Amanhã vai fazer um ano que você veio passar férias aqui. Eu queria contar que eu tou com o dia 2 de Julho encravado na minha cabeça faz um tempo, ontem até comentei com um conhecido que tinha alguma coisa pra fazer, 2 de Julho, "eu sei que tem algo", e aí por isso talvez não pudesse ir a uma festa que vai acontecer nesse dia. Era isso: um ano que se completava da tua chegada de volta, aqui.
Tua amiga abestalhada, essa Bárbara, tá toda cheia de saudosismo. Talvez um desejo de que esse dia 2 tivesse se repetindo, como uma preparação do espírito pra receber a amiga que há um ano estava vindo, chegando, ficando perto: Presença.
Mas não vem. Não sei quando vem.
Então vamos marcar um tempo pra vir: o tempo-logo!

Tou aqui, lembrando de um fragmento clichê de Lispector:
"Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas as vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: Quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida."
Me sinto tão palhaça, agora. hehehe

Fique bem, se cuide sempre, estou pensando em você, te mandando bons pensamentos e sentimentos felizes, porque é sempre feliz lembrar da minha amiga tão imensamente querida. Te quero um bem gigante. E paz e tudo o mais que for possível de existir. Leveza.
Beijos, mon amour.
Não esquece que te amo sempre. :*

 

[N'oublié jamais que je t'aime pour la vie e pour tout que nous sommes. Pour tout que je suis e pour tout que je peux être pour te connaître. <3]

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Pode ser que o encontro com a obra nos mantenha, pelo menos um pouquinho, em contato com o criador da mesma. Pode ser. Mas será? Há quanto tempo o criador já não é mais a obra; a quantas anda o novo criador, embora a obra já tenha um dia refletido seu estado de bem ou mal estar, seu momento, o modo de ver a realidade que se concebia num momento ao qual talvez nada mais tenha a ver. Pode ser.
Enquanto eu saio em busca de encontrar gente, que nem tem como encontrar de fato - e 'de fato' remete a definir o que vem a ser 'encontrar' -, o que posso ter são intermédios com sensações propiciadas através de alguma coisa criada, que um dia já refletiu parte da pessoa. E aí os meus sentidos enganam-se em pensar que aquela presença projetada pode ser tida com realidade - e aí mais uma vez caberia um 'defina realidade'-, porque levando em consideração até uma obra contemporânea desse criador, o ser já não é mais o ser que se foi pouco tempo depois, poucas experiências e vivências após e a criação.
E eu nem sei porque estou aqui no blog, escrevendo sobre isso. Talvez necessidade da presença, que obra nenhuma, nem mesmo fotos - porque nem mesmo as fotos captam a imagem exata, considerando que logo após o clique, já se existe alguma mudança -, conseguiram suprir. Talvez necessidade da presena do que não pode ser visto: o invisível-sentível-essencial. Que, me parece, nem sei do que se trata, nem se existe sentido nessa de presença, nem se cabe essa coisa de impronunciar, pela condicionalidade além da escolha que é o de não se encontrar maneira de dizer o indizível. Talvez. [o que também pode ser somente - 'defina somente' - estresse, o que me tem chegado, indesejado e chato, sabe né?]
E aí, me coloco aqui, a escrever coisas que em pouco tempo pode ser que nem me reflitam mais...

[e acabo de escrever, após uma madrugada inteira de um estudo quase negligenciado pelo desânimo + preguiça + sono. logo... ah!]

sábado, 4 de junho de 2011

Fagocitose

Meu romântico Jack, por André Lucas Fernandes, no Eu Também Quero Falar.
(boa sorte com o Wordpress. hihi)

"A cena se desenrolava ao som de alguma coisa de Bach, ou era Tchaikovsky, talvez Vivaldi… Verdade é que não importava.
Tipos dos manuais “bem acabadinhos”, psicanálise “certinha”, cuidado, o personagem que agora se apresenta, nem gostava de música clássica. Não era uma “moeda humana”: ovelha em casa, lobo na rua. Esqueça, leitor, veja bem: esqueça suas idéias classistas ideológicas, seus conceitos leigos que se adornam de razão absoluta.
O que se processava era um rito, que não levaria a lugar algum. A mesa velha era um altar, no centro da arena. Era o poder inabalável. Lá, Jackson era universal: ele e você, ele e eu – todos.
Pelas paredes, os mais diversos apetrechos foram colocados cuidadosamente: perfurantes, cortantes, esmagadores. Diversas possibilidades, combinações e potencialidades. Um grande exercício de criatividade.
Jackson, ou Jack – já que somos íntimos agora – era um visionário, um pensador. A aparência um tanto bagunçada não era constante. É que em épocas de euforia (como a que observamos) ele ficava ‘desleixado’. A imagem de maltrapilho, o fedor (que ele não percebia) também se enquadram nessa situação. Ele não era pobre, um miserável pária. Não tinha documentos, mas nada acontecia por isso. Era um invisível, imune às amarras do controle social. Um homem que, rompendo com o pacto de sociabilidade, fabricou a sua própria apartação.
Jack abandonou até o título de ‘homem’, é bem verdade. Tampouco se percebia como coisa. Pergunto-me, aqui entre nós, se ele era capaz de auto-observação… Não sei.
O espelho do lado oposto mostrava no peito a frase tatuada: “Eis o filho preferido…” E ele era.
Tudo isso, toda a cena, as imagens produzidas existiam de caso pensado. Jack era um apaixonado e sua vida era perseguir essa emoção profunda, indecifrável fruição. Não era paixão própria, entendam – não levantem a pecha do narcisismo. Ele era generoso, muito humano.
Uma frase marcou a vida de Jack: “Existir é uma violência.” E Jack existia e percebia a existência dos outros. O entorno machucou Jack a vida toda, mas ele nada fez para merecer isso. Ele era um curioso (e essa curiosidade também o violentava).
27 anos. Ele também era um ‘cansado’. Contavam três anos desde que Jack decidira reagir…
Ele queria entender o porquê de tanta violência. Intuiu que o corpo era a origem e que a história servia como a narrativa do corpo violentado e violentador. Jack era graduado em Medicina. Exímio entendedor de Anatomia. E ele odiava adornos, floreios. Admirava a essência, a natureza das coisas.
Andava ao redor de seu altar particular. Já estava na hora de encontrar com a sua essência. Era a vigésima pesquisa e ele sabia que estava perto. Dessa vez, estava só: sem cobaias, sacrifícios… Hoje, iria entrar em comunhão com o corpo e com a essência da violência. O primeiro passo era romper o efeito ludibriante, o receptáculo.
Escolheu um punhal e enquanto perfurava a barriga era capaz de ver, perfeita, a essência, a dor, a violência. Epifania forçada na narrativa: Jack finalmente compreendeu seu papel. Qual fosse – violência em forma de resposta contra você leitor: o papel de papel nenhum."
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Não de coisa, mas “o papel de papel nenhum.”
É o que a gente sente quando não somos parte – de verdade, de sentido de ser – do que fazemos, não nos reconhecemos em tal, não nos reconhecemos em nós mesmos, menos ainda no âmbito social. Ah, porque o papel de papel nenhum é deixar de ser sujeito de criação, de re-criação, de obra-reflexo de si, da vida, na vida.
Jack, Lino se apx.

terça-feira, 24 de maio de 2011

(Ação é o que temos para, junto com o discurso, nos manifestarmos no espaço da aparência.)

Mas se colocando muito mais no sentido subliminar da coisa, porque somos sempre cheios de ação, seja ela latente ou manifesta. Somos muito mais esse conjunto, porque mesmo sem manifestar, aquilo que se encontra latente acaba – pra quem tenha lentes de suporte suficiente – por ser subentendido nas ações, que tentamos controlar. Latência, manifestação, aparência. Tudo que temos.

Além, um turbilhão de sentidos e gestos inconscientes de manifestação latente.

Tudo que somos: pessoas.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Pra quando chegarmos à segunda lua cheia:

Tenho pensado tanto em você, vezenquando. E me parece tão urgente. Muitas dessas vezes, nem chego a formar de fato um pensamento. É uma energia que me vem, como ecos de pensamento, com percepção de sentidos - e pupilas desnudadas - e, principalmente, - e acho que isso envolva um certo teor de incerteza do que existe entre a gente, no sentido de tempo e do que de fato temos -, saudade. Te envio minhas boas energias: que recebas, que sintas, que seja doce, de multitons e bons fluídos - sentidos.


Te quero, muito.

Um beijinho cafeinado, um abraço maior do que a gente é, do que a gente pode ser. :*

terça-feira, 10 de maio de 2011

Cartas: impressões corridas, literalmente.

"Dá vontade de escrever carta, dizendo coisas que as pessoas não dizem mais, porque seriam coisas que só se dizem por carta, não por telefone, e ninguém escreve mais carta, só telefona, e portanto há coisas que não são mais ditas entre as pessoas." #CaioF

E, entretanto, há pessoas que não conseguem se dispor nem aos telefonemas, mas que gostariam de que ainda existisse a vida, a liberdade das cartas, mas nunca se sabe como as cartas serão recebidas, ou, principalmente, como serão vistas, se serão bem-vindas (seria algo conveniente?). E se continua, seguindo na existência das coisas não-ditas, no silêncio de cartas jamais enviadas.

M'au'dernidade.

(Queria muito desenvolver o assunto, mas o tempo é curto, e o mundo material-real-responsável me chama de volta à prisão dos corpos, ao calabouço da mente que quer pensar, mas não se é permitido. Quarto 101, now!)

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Oquei, eu já posso dormir - ou não.

Não é nada legal a sensação de incômodo em relação a algo e, pra piorar, não ter sequer a chance de dividir a lamúria com os amigos, ou quem quer que seja, não porque eles não queiram, mas por você, mesmo.
Uma auto-preservação (ou precaução?) diante das imagens proferidas, e muito moldadas - questão de conviver bem -, aos "outros".
Vestir a face de psicopata-de-pedra-varrida não é desejo de ninguém que tenha consciência disso, no sentido de até você mesma se achar assim - pelo  menos eu acho. É bem esquisito, no sentido ruim, ficar incomodada com uma coisa que, aparentemente, não manifesta fundamentos "normais" e "aceitáveis".
Um simples desconforto, coisa de gente, coisa nossa, do íntimo.
O máximo que conseguiria eu, ao falar/desabafar/despejar a insanidade com/para alguém seria bancar a lunática, a louca que não tem nada melhor pra fazer. A coitada. (ou a desocupada? jamais, hein?)
Mas, eu admito que sentir é algo muito controverso e confuso - e falo do sentir em todos os contextos possíveis, do sentir mais puro que é aquele do não entender conscientemente nada, mas ainda assim ter nuances de entendimento. Coisa de sentidos, espírito. Coisa de Universo - paralelo, ou não. Complicado mesmo. É de desejar sumir e só encontrar espelhos distorcidos e retalhos de qualquer sanidade perdida. O sentir...

"Tudo é questão de sentir...", como já dizia um amigo meu da faculdade.

Mas, como manifestar sentimentos e sensações que te põem em perigo de perda?
O mundo individualizado, debruçado na indiferença, está aí pra mostrar que meus receios são legítimos. Sinto como se estivesse derramando meu "sentir" num baú de segredos. Porque mostrar a face livre, o coração livre, a alma livre, são coisas tão perigosas. Mas aí ninguém entende o sentido de perigo. Aliás, as pessoas entendem perigo e medo de perda no âmbito material, algo como "se não vai perder bens, patrimônio, ou ainda algumas notas cifradas, não há motivo a se preocupar...". Alguém entendeu?
E não, eu não rio na cara do perigo. Nem quero.
O sentido da coisa implica que o perigo impõe medo, que por sua vez impõe cautela, que por sua vez impõe recuo, que por sua vez impõe pensar cinco vezes antes de dar um passo - pra não cair no poço, porque né.
Por isso eu me nego a expressar certas coisas. Escolho escrever aqui, mesmo que fique em off. Escolho escrever num caderno secreto qualquer coisa mais "desajustada", e essa palavra é muito forte, porque: desajustada a quê?
A sociedade - e a socialização - te atingem em conflito por imporem "cláusulas" de convivência,  muitas vezes - por mim - desprezadas, mas nem isso, ao certo. Acho que seria mesmo algo como "não tragáveis". Mas aí vem o choque: o perigo, com o medo, e com os adjacentes outros mais.
Isso, esse tipo de coisa, essa loucura, eu nunca digeri bem.

(aí é só fazer a blasé e, aparentemente, se livrar do abismo que é pensar e sentir - apática)

segunda-feira, 14 de março de 2011

Tarda e falha, sorry.

A gente nunca chegou a acontecer, diga-se. Duas almas vagando com olhares cúmplices e, desventuradas pelo acaso, alheias uma à outra. Ainda é feliz olhar pra você, embora, meio sem graça, eu perceba que todo mundo ao redor de nós sente nossa sintonia imediata quando nossos olhares se (re)encontram, tímidos e mútuos, no ar.

Porque sempre que eu te encontro, eu sei que você me encontra. E nunca é um mero encontro casual. São estrelas cadentes, convergindo num ponto do fim de um arco-íris, em preto e branco, finito. Momento finito, porque, depois, cada olhar se despede, a passos estreitos, em direções diferentes, pela imensidão do tempo.

Livres, cintilantes, altivos, prometidos: unitários neles mesmos.

E a gente nunca chegou a pôr um ponto final nisso tudo que nunca nem mesmo aconteceu. Ficara, talvez, amarrotado em nossas cabecinhas tolas, enrolado em lembranças de sensações e imaginários, de coisas que, ainda, também não aconteceram no mundo "real".

Porque nos guardamos para um futuro, um amanhã, um hoje que nunca chega - e nunca chegará? -, para um talvez que só existe, quiçá, em nossos pensamentos, em realidades apenas sonhadas. Até quando? Até sempre? Eu já aceitei a condição há muito tempo, desde sempre, suponho. Mas e você, que insiste em se fazer presente, mesmo que nem tome uma consciência firme nesse sentido?

Abraçamos um ao outro, em saudação. O Universo dança, brilha, melodioso.

Dois braços que se abraçam e se entrelaçam, selando um - refutável - em tom maior, em poesia latente: adeus.


[É que eu nem sinto falta de nada, é só um saudosismo que me vem, um desmembramento de turvas lembranças, vezenquando. E penso mesmo que nunca daria certo entre um e outro, mas isso sou eu e minha psicologia de boteco, dando pitaco na vida alheia. Eu, eu mesma, sou de ferro, aliás.]