quinta-feira, 13 de maio de 2010

O Lago

Não é que eu tenha dado sinal verde. Nem, menos ainda, concordado com isso. A questão é que nada se encaixa. Onde fui achar esse buraco no qual eu me deixei cair? Aff. Às vezes, me olho no espelho e pergunto ao reflexo: – quem é você e o que faz no meu corpo?
É. Por um segundo é até cômico. Mas depois disso, não é mais. Uma tremenda babaquice.
Fantasio demais as coisas, dou forma e adornos. O que, aliás, toma minutos inteiros do meu dia só pensando, divagando, explorando essa minha cabecinha deveras tosca e suficientemente extensa – momentos estes em que eu poderia, e deveria, estar estudando. O que há mais a ser explorado por aqui? É, fico bastante empolgada com coisas sem razão de ser.
Gosto de conversar comigo mesma. Não é solitário saber que me acompanho, que me observo. É, sim, confuso às vezes. Só isso. Eu começo a pensar, lembrar, conectar as coisas. E fatos que eu nem lembrava mais da existência retornam ao campo de minha mente. É bom. Me sinto revivendo e, mesmo que constrangedor, a sensação é das melhores. É como se, nesses instantes, eu não estivesse nesse mundo, nesse corpo, nesse plano. Perco os sentidos, literalmente. Só permanece em mim a capacidade de pensar [imaginar, pra ser mais exata]. Chego a esquecer que minha alma habita em um corpo por aqui e, guardada as devidas proporções, é como se eu abandonasse esse local. Me sinto flutuar. Me sinto expandida pelo espaço, além da matéria. Dormência. Sensação de estar voando, de estar sendo alimentada por boas vibrações.
Depois dessa leveza, o que palpo é uma densidade. Sim, depois da dormência vem o mergulho num lago sem fim, profundo e brilhante. Encantador – empolgante. Esqueço de tudo nesses instantes e fico só vagando pelo fundo desse lago e explorando tudo que ali dentro há. Misterioso, por vezes, claro mais acima, escuro mais ao fundo. E existem correntes de lembranças lá dentro. Eu sinto. Eu vejo. São como imagens, que a gente pode, por um instante, tocar com os olhos. Um projetor, rodando cenas de sua vidinha, inconstante e suprema.
Entre outras mil, vi uma cena de um passado que nem existia mais pra mim, mas que, de certa forma, está altamente conectado à minha explosão de pensamentos de agora. Esse turbilhão de cores que eu teimo em enxergar, em dar vida. Mas nem é por vontade. É impulsivamente. A culpa não é minha, pelo menos não de verdade. [aliás, o que seria verdade nesse contexto?]
Noooous!
Por mais legal que seja esse momento e por mais empolgante que me pareça, depois vem a reflexão. Como é que eu deixo coisas tão sem sentido, tão bobas, tão desajustadas invadirem meu mundo dessa forma? Alôu, alguém aí dentro? Mas, diga-se, é excelente se desprender do corpo algumas vezes e voar pra longe, bem longe, onde não haja verdade, nem realidade, nem mesmo necessidade de coerência. Ou qualquer que seja a necessidade. E tudo que te rodeia não represente nada, não interfira em nada, não passe apenas de mera coincidência...
E, por mais absurdo e infantil que pareça, por mais que eu não encontre encaixe para nada disso, simplesmente, me deixo invadir pela graça, dou aquela risada cheia de gosto e percebo que depois de um momento submergida nesse lago, nada pode me furtar a calma, a paz. A leveza...


Pode até não fazer sentido [ô novidade, alguma coisa faz?], mas a sensação me faz lembrar uma frase de um livro:
Ela acreditava em anjos e, porque acreditava, eles existiam.

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